Elas
13:41
É a eles que me aproximo. E deles não me separo. Aferro-me a
um sorriso, a um olhar, pode ser apenas um ligeiro acenar. Agarro-me com força.
Dou tudo o que tenho, o que sou, mas sobretudo aquilo que não sou.
Aquilo que penso que eles querem que eu seja. E como sou
obediente, é nisso mesmo que me transformo. À custa da minha dignidade. Ignoro
outras partes de mim, aquelas que não interessam. Aquelas que não são para aqui
chamadas. Mas Elas sabem... conspiram em silêncio e revoltam-se nos momentos em
que me encontro fragilizada, vulnerável.
Atiram-me à cara o quanto estão magoadas, o quanto as
desprezei. Não as culpo, escondi-as da luz do dia, mostrei ter vergonha delas,
deixando-as isoladas e apertadas num recanto obscuro da minha alma.
Claro que têm raiva. A revolta consome-as, e no momento em
que têm uma oportunidade, mostram-me as suas feridas. Acusam-me. Porque?
Porque é que defendo com tanto fervor a liberdade mesmo
quando tenho prisioneiras dentro de mim? Será possível tamanha hipocrisia?
Tamanha crueldade?
Estão cansadas, abatidas, acabei com o seu amor próprio.
Permanecem agitadas na sombra.
“Desaponta alguém, desaponta a todos, mas nunca te desapontes a ti própria”
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