O que significa ser mulher?

16:36


Na passada quinta-feira, dia 5 de Março assisti a um encontro na livraria Bertrand no qual participaram a artista Ana Vidal, a jornalista Maria Antónia Palla, Rita Ferro Rodrigues e Miguel Boneville, com Anabela Mota Ribeiro a moderar, para comemorar a reedição de várias obras da Simone de Beauvoir em português pela editora Quetzal.
Nunca tive oportunidade de ler alguma coisa desta imponente figura, apenas sei um pouco sobre a sua relação tormentosa com o filósofo Sartre graças ao fantástico e inspirador livro sobre mulheres que marcaram uma posição no mundo; “Historias de mujeres” da fantástica escritora Rosa Montero. Este evento apenas conseguiu reacender a minha curiosidade por esta personagem e comprei de imediato a nova edição em português do livro “ O segundo sexo”.

Neste circulo aberto foram discutidos vários pontos muito importantes, sendo introduzidas perguntas essenciais para a nossa reflexão como mulheres pensantes e livres, entre elas; “ O que nos torna mulheres?” e “ Existem diferenças reais entre homens e mulheres ou estas são apenas criações culturais”. Estas perguntas despertaram emoções fortes, dúvidas e controvérsia entre todos os presentes.




Mas afinal, o que significa mesmo ser mulher?
Quase no fim, uma rapariga ao meu lado (que era evidente que tinha uma paixão contagiante pelo tema, notória no brilho do seu olhar e pela sua inquietação) disse algo que me emocionou; “ Ser mulher significa sentir-se mulher, e sobretudo decidir sê-lo frente aos outros quando se quiser”. Com esta frase tão simples mas tão forte, conseguiu incluir na definição de mulher a todas aquelas pessoas que decidem sê-lo, fazendo uso da sua própria liberdade. Mesmo os transexuais, que tantas vezes são excluídos e colocados em categorias diferentes e depreciativas como a sociedade faz sempre que se encontra com uma potencial ameaça à ordem ilusória predominante.

Ser mulher significa ter a liberdade para decidir sê-lo, para decidir não aceitar (ou sim) os padrões tradicionais que foram estabelecidos ao longo da história para nos colar às casas, aos filhos, a falar baixinho e quanto menos melhor. Essa marca d’água que nos acompanha ao longo das gerações, embora cada vez de forma mais implícita na cultura (pouca gente se atreve hoje em dia a admitir abertamente os seus pensamentos machistas, muitas vezes por nem se aperceberem que o são), é a razão da culpa que sentimos ao nos impor, ao responder de volta, ao passar por cima de um homem, ao decidir não ter filhos ou ao não conseguir tê-los. É contra essa culpa que temos de lutar para reivindicar a nossa liberdade interior.

“ Eu senti-me mulher quando aprendi a dizer que não” disse a artista Ana Vidigal. Só aprendeu a fazê-lo aos 40 anos. É uma estrada trabalhosa aquela que leva à liberdade, sobretudo quando se pode tornar um caminho tão solitário. Uma mulher que se impõe normalmente é catalogada de imediato pelos homens como sendo “bruta” “masculina” “agressiva” “ intimidante” a atrelado a estas qualidades vem muitas vezes a falta de atração. Por alguma razão (vá-se lá saber porque!) alguns homens são muito sensíveis ao facto de que ter uma mulher forte do seu lado lhes recorde constantemente das suas próprias fraquezas.

Mas essencialmente são as próprias mulheres que rejeitam estas características na outra, denigrem-na “assim nunca vai arranjar ninguém”, " Estranho com a sua idade ainda não ter filhos, deve ter um feitio tramado" bisbilhotam. Aí é que vemos onde está o verdadeiro problema,  os preconceitos de género encontram-se tão camuflados na nossa cultura que temos de pensar duas vezes antes de conseguir reconhecê-los. E é então quando as oprimidas se tornam cúmplices da sua própria opressão...

Dar de caras com a liberdade deixa-as apavoradas.


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